23 de maio de 2016

Fundamentalismo, Oportunismo e Burrice (1) - Governo de Costa versus Ensino Privado

Fundamentalismo, Oportunismo e Burrice (1), artigo de Armando Humberto - PS Oliveira do Bairro 

[Governo de Costa versus Ensino Privado -  contratos de associação]


Nas recentes comemorações do 25 de Abril tive a oportunidade de proferir um discurso, na Assembleia Municipal de Oliveira do Bairro, onde defendi a opção clara que o PS fez em 1974 pela da defesa “de um regime democrático de inspiração europeia, um regime de base parlamentar. Um regime solidário, solidário entre gerações, solidário entre classes sociais, com aqueles que mais podem a financiar um serviço de saúde para todos, e um sistema de educação integrador e capaz de aproveitar e estimular as potencialidades de todos”. Disse também que “temos vivido tempos dominados por radicalismos, sejam eles de direita liberal ou de esquerda radical.”





E como homem de esquerda tenho a certeza que a melhor forma de combater os radicalismos da direita não é com radicalismos, nem fundamentalismos de esquerda. A recente intenção do governo de cortar a direito nos contratos de associação é um desses fundamentalismos em que não me revejo de todo.
Não será de mais salientar a importância de mantermos e aprofundarmos uma escola integradora, uma escola que perceba que o ponto de partida das crianças é diverso e por isso as respostas também têm que ser diversas, e que é uma aberração querermos logo no final do primeiro ciclo realizar exames para avaliar e começar a seriar. De resto o mesmo se aplica à saúde, temos que ter um sistema de saúde que permita o acesso a cuidados de saúde a todos com qualidade. Escola e saúde de qualidade para todos são de resto dois dos pilares mais fundamentais da utopia de Abril, que temos todos a obrigação de aprofundar. 
A escola e a saúde são tão importantes que o estado deve ter uma posição dominante nestes setores, daí a importância de zelarmos pela escola pública e pelo serviço nacional de saúde, mas a nossa escola e a nossa saúde foram construídas em diversidade, num regime de coexistência entre público e privado, porque se entendeu que os privados podem trazer investimento que é necessário para dar resposta às necessidades das pessoas, e porque se entendeu que os privados podem trazer novos métodos, inovação ao nível da organização e gestão que pode melhorar o sistema como um todo. De resto a introdução do regime fundacional no ensino superior, por um governo do PS, é exatamente um passo claro neste sentido. E de resto, este foi o entendimento dominante no Portugal de Abril. Um entendimento que hoje por mero fundamentalismo e oportunismo se quer colocar em causa. Aquilo que se passa no ensino é em tudo análogo ao que se passa na saúde, com a existência de operadores públicos e privados ambos a prestarem serviços e a serem financiados pelos impostos de todos nós. Mas ninguém propõe, pelo menos para já, acabar com essa situação na saúde. Porque para o fazer o estado teria que construir dezenas de novos hospitais e não tem meios para isso. No ensino é diferente, fruto da redução do número de alunos, o estado pode descartar os privados sem ter que realizar qualquer investimento. Mas nortear a política assim é puro oportunismo, e a política deve ser norteada por valores. E o valor fundamental é o da escola e da saúde de qualidade para todos, e isso é uma tarefa gigantesca e de enorme importância, que precisamos de aprofundar todos os dias, e para a qual precisamos de mobilizar a nossa sociedade. Não precisamos de colocar público contra privado, isso foi aquilo que o anterior governo fez, foi colocar privado contra o público, funcionários dos privados contra funcionários público, pessoas no ativo contra reformados. Daí a burrice!


Esta medida poderá ter um enorme impacto, na nossa região, onde ao longo de décadas quatro projetos educativos cooperativos se enraizaram nas nossas comunidades: o IPSB em Bustos, o Colégio Salesiano em Mogofores, o Colégio da Nossa Senhora da Assunção em Famalicão, e o Colégio de Calvão em Vagos. Querer acabar com estes projetos educativos, ou querer coloca-los em causa desta forma, é puro fundamentalismo ideológico, oportunismo e burrice. Esta gente, que hoje quer avançar com este disparate, desconhece a realidade, ou melhor só conhece a realidade vista de um gabinete de Lisboa. E para que fique desde já bem claro, não contem comigo para prestar servilismos a Lisboa.
Armando Humberto
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(1) Armando Humberto Pinto, “Fundamentalismo, Oportunismo e Burrice”, artigo publicado Jornal da Bairrada, 2016.05.12.Sub-título e ilustração da responsabilidade de sérgio micaelo ferreira.

18 de maio de 2016

Sessão Municipal Comemorativa do 25 de Abril, INTERVENÇÃO de Armando Humberto (PS-Oliveira do Bairro) (*)

Sessão Municipal Comemorativa do 25 de Abril, INTERVENÇÃO de armando Humberto (líder de bancada do PS-oliveira do bairro) (*)

Abril de 74 foi uma época de crise, a revolução colocou em causa os alicerces da sociedade de então.
A revolução colocou em causa a guerra colonial, a política colonial, o regime politico, e toda uma estrutura social onde a pobreza era passada de geração em geração, e onde havia muito pouca mobilidade social.
A revolução colocou tudo em causa, a revolução fraturou a sociedade.
Havia aqueles que não acreditavam na utopia revolucionária e defendiam que o nosso povo não se saberia governar em liberdade.
Havia aqueles que não queriam deixar pedra sobre pedra e queriam transformar por completo o regime, transforma-lo num regime de inspiração soviética.
E ainda havia os outros, aqueles que queriam ver Portugal com um regime democrático de inspiração europeia, um regime de base parlamentar. Um regime solidário. Solidário entre gerações. Solidário entre classes sociais, com aqueles que mais podem a financiar um serviço nacional de saúde para todos, um sistema de educação integrador e capaz de aproveitar e estimular as potencialidades de todos. Este não era o caminho mais fácil, mas foi aquele que os portugueses souberam escolher.
De uma ou de outra forma, com mais ou menos erros, todos os governos desde então procuraram aprofundar este caminho, e a verdade é que ajudado com fundos comunitários, Portugal sofreu uma transformação profunda. A democracia foi consolidada, criaram-se infraestruturas, melhoram-se todos os indicadores de saúde pública, desenvolveu-se o ensino, a investigação, internacionalizou-se a indústria, enfim, deixámos de estar condenados ao Portugal pobre e triste e tornamo-nos num país mais aberto e mais apto para competir numa economia global.
Mas nem tudo foi perfeito, cometeram-se erros, não fizemos tudo aquilo que poderíamos ter feito e ficámos vulneráveis.
E a crise de 2011, com a consequente vinda da Troika, veio novamente abalar os alicerces na nossa sociedade. Por ventura não de forma tão violenta como a revolução o fez, mas de forma igualmente profunda.
Temos de um lado o pacto de estabilidade e do outro o estado social.
Armando Humberto Nolasco (PS-Oliveira do Bairro) na Sessão da Assembleia Municipal comemorativa do 25 de Abril

Temos aqueles que nos dizem que para defender o pacto de estabilidade temos que reduzir ao mínimo o serviço nacional de saúde, o sistema de ensino e a segurança social. Dizem-nos que temos que abandonar tudo aquilo em que alicerçamos a nossa coesão social, o nosso desenvolvimento no pós-25 de abril. Dizem-nos que temos que voltar ao Portugal pobre e triste, onde o berço determinava em grande medida o quanto longe se podia chegar. Onde a dureza da vida levava ao desperdício do talento de muitos.
Temos também os outros, aqueles que nos dizem que temos que mandar o pacto de estabilidade para as urtigas, para salvar o estado social. Como se, hoje, fosse possível, para um economia pequena e periférica como a nossa, sair da zona Euro sem com isso provocar um enorme empobrecimento de todo o nosso povo.
Tenho para mim que ambas as soluções, sacrificar o estado social para salvar o pacto de estabilidade, ou sacrificar o pacto de estabilidade para salvar o estado social, nos iriam conduzir ao mesmo sítio, a um Portugal pobre e triste, desertificado e reduzido a ser o Algarve da europa.
Mas há ainda outro caminho, que é o de não prescindirmos nem do pacto de estabilidade nem do estado social. É um caminho difícil? Por ventura será, mas é aquele que temos que seguir. E só o conseguiremos seguir se estivermos unidos, se recuperarmos os consensos sobre aquilo que é o essencial.
Temos vivido tempos dominados por radicalismos, sejam eles de direita liberal ou de esquerda radical. Temos perdido demasiado tempo a salientar aquilo que nos divide em vez de nos unirmos para defender aquilo que nos une.
Temos todos, os pelo menos aqueles que acreditam em Abril, de nos unirmos para garantir que colocamos a nossa economia a crescer, porque só produzindo, e nós não estamos disponíveis para abdicar disso, é que será possível salvar o pacto de estabilidade e o estado social.
Nós não vamos abdicar de nenhum deles, porque não estamos disponíveis para abdicar de um Abril que nos leve a sermos um país europeu de corpo inteiro, um país que permita que cada um aqui nascido, possa aqui desenvolver todo o seu potencial, todo o seu talento, com orgulho no seu país.
Viva o 25 de Abril, Viva Portugal
Armando Humberto
(Membro da Bancada do PS na AM de OB)
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(*) Armando Humberto Nolasco pronunciou o seu discurso perante as seguintes entidades
:Exmo. Sr. Presidente da Assembleia Municipal
Exmo. Sr. Presidente da Câmara
Exmos. Srs. Vereadores
Exmos. Srs. Presidentes de Juntas de Freguesia
Exmos. Colegas desta Assembleia
Exmos. Srs. Presidentes das Assembleias de Freguesia, membros das juntas e assembleias de freguesia
Exmos. Srs. Representantes de Entidades Religiosas, Civis e Militares
Exmos. Representantes das Associações Concelhias
Exmo. Sr. Presidente [do Núcleo de Oliveira do Bairro] da Liga dos Combatentes
Exma. Sr.ª Diretora do Agrupamento de Escola de Oliveira do Bairro,
Exma. Sr.ª Diretora do IPSB
Exmo. Sr.º Diretor do IPB
Exmos. Srs. Ex-Autarcas
Exmos. Srs. Jornalistas
Ex.mo. Público
Minhas Senhoras e Meus Senhores
Minhas Meninas e Meus Meninos



...é urgente que sejam os educadores a falar para os economistas!

Por André Moreira
Mais importante do que os economistas falarem para educadores, é urgente que sejam os educadores a falar para os economistas
Um projecto educativo, à escala nacional ou ao nível de escola, exige meios e isso envolve questões económicas. Por isso mesmo a economia deve ser o meio – e a educação o fim; nunca o contrário. Numa sociedade que quer ser civilizada, o desenvolvimento económico deve ser pensado como uma estratégia útil e necessária para que as pessoas possam dedicar mais tempo à cultura, ao conhecimento e à interacção humana. E ao prazer estético e à capacidade de transcendência. Se pensarmos nos intervenientes políticos actuais, tudo poderia estar a bater certo. Mas não está.
Ao longo da história, a espécie frágil que somos (não somos especialmente velozes nem fortes, não vemos no escuro) aprendeu a contornar as ameaças externas – as condições atmosféricas, os predadores, a necessidade de se alimentar - ao ponto de elas já quase não a ameaçarem. Para fazer isso, desenvolveu sua racionalidade técnica. Um indivíduo por si só, quando colocado em frente de um urso ou um de leão, pouco pode fazer; no entanto, se carregar consigo a técnica adequada, derrota-o sem dificuldade. Assim, o risco que corremos hoje em dia não é o de sermos destruídos por causas externas: é o de sermos destruídos por nós mesmos. E, para enfrentarmos esse risco, a racionalidade técnica não vale de nada. Pelo o contrário: frequentemente, ela volta-se contra nós.
Uma sociedade que enfatize excessivamente a técnica é uma sociedade que se destruirá. Hoje, dependemos muito menos da racionalidade técnica, já bastante desenvolvida, e muito mais de consolidar a nossa capacidade de estabelecer regras e normas para uma convivência civilizada. E é este o papel insubstituível da educação e dos educadores. Neste nosso mundo, os sistemas de educação são um dos últimos espaços que podem ser essencialmente comunicativos, voltados para trabalhar valores e fins, para valorizar a dialéctica e a própria linguagem centrada na palavra. Espaços privilegiados para a interacção humana, portanto. E não para meras operações para subtrair números e somar preconceitos e confusões avulsas.
Se queremos desenvolvimento, a economia e a técnica têm de ser usadas olhando para as pessoas, porque são elas o centro de qualquer projecto (cá está o "nosso palavrão" outra vez!) sustentável. E são os educadores que sabem disto. Por isso, mais importante do que os economistas falarem para educadores, é urgente que sejam os educadores a falar para os economistas.
Só merecerá ser chamada de civilizada uma sociedade que trate a educação efectivamente como um direito das pessoas, como uma prática voltada para alargar os seus horizontes humanos – como um fim em si e não como um instrumento para adequar as pessoas à voracidade de um mercado cada vez mais enlouquecido e dominado pelo fetiche da posse ou da falta dela e pela constante necessidade de pagar as crises que outros geram e onde, depois, proliferam, justificando tudo. E já cansa.

André Moreira é professor no IPSB, é de Aveiro, mas está, desde criança, ligado a Bustos, onde passava dias a brincar no largo da feira. Hoje faz parte do corpo docente no âmbito das Artes, é responsável pela IPSBTV e co-responsável pelo Grande Prémio Frei Gil de protótipos solares desde a primeira edição. Músico por devoção, ainda encontra tempo, entre os inúmeros projetos que impulsiona, para ser, a título completamente gracioso, baixista no Grupo de Cantares de Bustos, há mais de meio ano.

16 de maio de 2016

ADELINO GOMES TRAZ MEMÓRIAS DE ABRIL AO IPSB



Pela mão do jornalista Belino Costa, nosso conterrâneo, com a coordenação do Grupo de História do IPSB, veio até nós um dos repórteres de Abril, possivelmente aquele que mais intensa e espontaneamente viveu Abril na peugada de Salgueiro Maia, seu amigo da escola. Falamos de Adelino Gomes que conseguiu trazer, até aos nossos alunos, gritos de vitória, gritos que ainda hoje, não sendo onomatopeias, fazem lembrar correntes a partir-se, janelas a abrir!...
A sessão começou como uma encenação de alunos e professores com textos alusivos à Liberdade de Abril. Cantou-se o "E depois do Adeus" que desbloqueou as janelas de Abril e ouviu-se o Grândola Vila Morena que as escancarou. Tivemos uma certa impressão de que os nossos ilustres convidados foram apanhados de surpresa por esta iniciativa e que gostaram da plataforma que lhes estendemos para motivar ainda mais os nossos alunos para a importante mensagem que nos trouxeram.
Adelino Gomes trouxe-nos Abril como até agora o não tínhamos escutado: na primeira pessoa, da primeira linha, do topo de uma guarita da guarda onde Francisco Sousa Tavares proferiu um discurso improvisado que marcou a revolução portuguesa na História das revoluções de todo o mundo.
E, bem ao jeito daqueles que vêem ao longe, Adelino Gomes levou-nos até bem lá atrás, às Crónicas de D. João I de Fernão Lopes, para compreendermos melhor as pistas que o passado nos dá para, de forma mais livre e informada, aprendermos a fazer escolhas no futuro.
Gritou-se Liberdade! "Ensinou-se" Liberdade!

Obrigado Belino Costa!
A nossa escola não é um mundo fechado. Muito antes pelo contrário! Obrigado por acreditar que vale a pena partilhar connosco este sal da nossa "portugalidade"!