9 de dezembro de 2006

MARIA DA SILVA BAPTISTA - "O GOSTO PELA POESIA"


(da cópia do manuscrito)
1974
Tenho eu 79 nos
M.S. B.[1]

A nossa separação
Ainda vem antes da morte
Até aos meus queridos netos
Já Deus lhe deu essa sorte


Quantas lágrimas se choram
Dando suspiros e ais
Já os meus queridos netos
Estão separados dos pais

Temos de abraçar a sorte
Passando esta vida dura
Todo este sofrimento
Nos causa grande amargura.

Maria da Silva Batista

[1] M. S. B. (são iniciais de Maria da Silva Baptista)
07.06.1895
09.12.1993
,,,,,,,
.......
DESPEDIDA
(AO JOSÉ JOAQUIM BAPTISTA PERREIRA
SOLDADO INSTRUENDO 74431373)


Adeus meu querido neto
És por mim tão adorado
Agora deixas-me só
E vais servir para o Estado.

E quando te fores embora
Pensa bem aonde vais
E nessas terras distantes
Nunca te esqueças teus pais.

Nessa tão triste viagem
Leva fé no coração
Para que tenhas coragem
Em defender a Nação

Quando saíres desta terra
Terás desgosto talvez;
Mas é um dever lutar
Para ser bom português.

Fico a pedir a Deus
Que não te aconteça mal
E faz quanto puderes
A favor de Portugal.

Nessa luta tão cruel
Meu Deus te ponha a virtude
E que te traga um dia
Cheio de vida e saúde.

Por sua avó
MARIA DA SILVA BAPTISTA (COM 78 ANOS DE IDADE)
....
“Baptista, Maria [2]

Poeta popular. Maria (da Silva) Baptista nasceu no fim do século XIX e, quase centenária, morreu num dos últimos anos do século XX, na Barreira, Bustos, Oliveira do Bairro. Com escassa escolarização, revelou gosto pela poesia. Um dia pegou num caderninho escolar e derramou aí os seus versos. Tinha 81 anos de idade, conforme fez constar no caderninho, que datou: «Barreira, 17 de Agosto de 1976». Mas alguns versos são obviamente anteriores. Deve tê-los escrito em papéis soltos e só então os transcreveu. Nunca publicou nada por sua iniciativa e pouco escreveu. Expri-me afeições familiares e glosas de crítica social. Ainda assim, o seu caso pessoal, precisamente pela modéstia de que se reveste, documenta quanto o gosto pela poesia se toma surpreendente ao eclodir com tamanha espontaneidade no seio do povo.”

[2] Arsénio Mota, Figuras das Letras e Artes na Bairrada, Campo das Letras, 2001 [a edição deste livro tem o apoio das Câmaras Municipais de (por ordem alfabética) Águeda, Anadia, Cantanhede, Mealhada e Oliveira do Bairro], pg.s 21.

Nota:
Maria da Silva foi modista e costureira de reconhecidos atributos. Foi aluna de Constantino Nogueira da Silva. Foi companheira de Maria da Conceição Almeida Ferreira Santos Pato e de Florinda (?) da Couvelha – as únicas meninas da classe. “Eram as duas ricas e eu pobre”, recorda o Mário Baptista Grangeia. O que não impediu de permanecerem amigas.
Uma curiosidade, não precisava de óculos para ler.

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